quarta-feira, 26 de abril de 2017

Comunicação do presidente da Federação das Associações Guineenses em Portugal, Dr. Augusto Mansoa, alusiva ao aniversário da organização dos imigrantes…

Depois de um debate sério, sincero, elegante e de alto nível no dia 24 sob o tema “imigração e desenvolvimento”;

Após a reunião da 4º Assembleia Geral da FAGP que decorreu esta manhã, 25 de Fevereiro, igualmente de forma ordeira e muito participativa, é chrgado o momento de fazermos uma breve reflexão sobre o associativismo guineense em Portugal.

De facto o imigrante guineense sente na pele a dureza de viver e trabalhar fora do país: a falta de apoio social, económico, jurídico; a não integração plena na sociedade portuguesa; a falta de habitação ou perda dela; a descriminação disfarçada e subtil no local e trabalho... o viver em condições precárias e em ghetos ou bairros problemáticos e estigmatizados;

Sente igualmente na pele a necessidade de ter que trabalhar em horários completamente desajustados com uma vida humana condigna: iniciar o emprego as 5 ou 6 da manhã, e chegar a casa as 9 ou 11 da noite;

Ter que abandonar os filhos ao Deus dará, sem qualquer tipo de apoio social sustentável; sem acompanhamento, sem enquadramento;

Estes serão o que amanhã?

Qual será o futuro de largas centenas de crianças abandonadas à sua sorte, à deriva em lugares desconhecidos pelos países?

Estaremos nós a viver uma nova era de escravatura porventura disfarçada em forma de trabalho/salário?

Portugal foi um dos primeiros países a abolir a escravatura, no reinado de D. José I, mais concretamente a 12 de Fevereiro de 1761 por Marquês de Pombal.

Mas só com o decreto de 1854 é que os primeiros escravos começaram a ser libertados, primeiro, os do estado, e depois os da Igreja, em 1956.

Mas desenganam-se aqueles que pensam que a escravatura acabou. No papel sim, mas na realidade ela continua de forma mais subtil e silenciosa.

Actualmente não são precisos barcos de africanos; os próprios fazem questão de se deslocar à terra prometida, não importa os sacrifícios e se preciso a própria morte. Exemplos abundam: o cemitério do mediterrâneo o exido maciço na Síria, entre outros.

Falando dos imigrantes guineenses, um dos principais destinos é Portugal; daqui seguem para outros países da Europa.

As condições de acolhimento, orientação, enquadramento, empregabilidade, assistência social e outras não estão criadas e nem vão estar nos próximos tempos.


É neste contexto que surgem as associações guineenses; algumas são de regionais, outras sectoriais e até religiosas.

Todas elas procuram uma identidade, não perder as raízes, e conseguir um ombro amigo; um emprego, um ganha-pão.

Há contudo uma característica fundamental destas associações: a capacidade de olhar para trás e ajudar os que não conseguiram ou não quiseram sair do país.

Com as suas parcas economias, conseguidas em condições muitas vezes desumanas, conseguem enviar uma ajuda às famílias. Esta característica deve ser preservada e incentivada.

É assim que encontramos associações, com as suas parcas economias a promoverem projectos nas suas tabancas de origem, nas mais diversas áreas: construção ou melhoramento de escolas, assegurando até o pagamento dos professores para leccionarem as crianças dessas localidades; construção de centros de saúde, infantários; envio de donativos em dinheiro e géneros; captação de água; saneamento básico.
Ou seja, visto em termos sociológicos estas associações estão a construir de forma empírica o conceito de solidariedade social.

Estão a substituir o estado no seu papel fundamental que é de garantir educação, saúde, cultura para todos, protecção social...

Mas só isto não basta.

O país com grandes potencialidades agrícolas, piscatórias, uma flora vastíssima, com uma população de cerca de dois milhões de habitantes não é capaz de ser gerido pelos seus próprios filhos?

Algo de estranho se passa no reino.

E com isto termino, desafiando a todos. Temos que ir em busca das razões que teimam a adiar o desenvolvimento da Guiné-Bissau.

A Federação é uma instituição de todos os guineenses; é uma cobertura de várias casas, ( as associações ); estamos a criar um instrumento de trabalho para que as gerações futuras possam usufruir dela e transforma-la numa grande alavanca de desenvolvimento para todos: guineenses e portugueses.

Gratidão à U. Lusófona, na pessoa do Professor José Paula de Almeida pelo apoio incondicional, desde da existência da FAGP;

O nosso muito obrigado aos nossos ilustres palestrantes, Professor Dr. Julião de Sousa e Dr. Jorge Sousa;

O nosso sentido orgulho pela moderadora Dra. Suzete Indau que ontem demonstrar que a mulher africana é grande; consegue, com pouco, fazer muito.

Igualmente gratos a todas as associações federadas ou não que nos honraram com a sua presença;

Entidades das câmaras e juntas de freguesia, ondem residem os guineenses, o nosso muito obrigado pelo apoio;

Personalidades anónimas, sempre atentam ao desenrolar dos trabalhos, também para elas a nossa profunda gratidão.

Esperamos continuar o nosso trabalho e voltarmos a este local ou outro dentro de pouco tempo.

Um grande abraço a todos.
Bem hajam.
Lisbia, 25 de Março de 2017

Dr. Augusto Mansoa, Presidente da Direcção

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